Campeonato Mundial de Canicross ICF
Fique por dentro do que rolou no Campeonato Mundial de Canicross 2024 em Bardonecchia Itália
Rodrigo Damião
1/27/202510 min ler


A charmosa cidade de Bardonecchia, situada nos Alpes Italianos, foi o palco do campeonato. Após um voo de 12 horas do Brasil, chegamos e encontramos um cenário que parecia feito sob medida para o esporte. O clima frio era ideal para as corridas de alta intensidade, mas foi o percurso que dominou as conversas em todas as rodas que a gente chegava. Pois ele apresentava um desafio que deixou os atletas ao mesmo tempo nervosos e empolgados.
O trajeto, caracterizado por subidas íngremes, descidas acentuadas e uma lama incessante causada pelas chuvas da semana, testou os limites de humanos e cães. A segurança foi uma preocupação constante entre os competidores, que temiam pela própria integridade física e a de seus animais. Vídeos de atletas reconhecendo o percurso viralizaram nas redes sociais, mostrando trechos aparentemente impossíveis de atravessar devido à lama escorregadia de mais de 5 cm de profundidade. Se caminhar era um desafio, correr com um cão puxando parecia quase uma tarefa impossível.
Apesar da ausência de alguns competidores de ponta que optaram por correr o campeonato Europeu IFSS na finlandia, Bardonecchia reuniu uma elite impressionante, incluindo nomes como o campeão de 2023, Ben Robinson, os franceses Jerome Henrion e Claire Maloisel, o brasileiro Matheus Oliveira, além da Alemã Carolin Joeken entre outros nomes de peso tanto do canicross como das demais modalidades (bikejoring e scooter). A presença marcante desses atletas garantiram que o campeonato mantivesse seu prestígio e nível competitivo.
A tradicional cerimônia de abertura ocorreu com o desfile das delegações nacionais pelas charmosas ruas de Bardonecchia. Participei desse momento histórico ao lado da vibrante dupla brasileira Eduardo e Andreia Ribeiro, e pude sentir a energia contagiante do evento. A hospitalidade dos italianos, que aplaudiam das janelas e varandas, tornou a experiência verdadeiramente inesquecível.


Dia 1: Um teste de resistência e estratégia
No primeiro dia de competição, a manhã começou com céu claro e um terreno um pouco mais firme, já que não choveu durante a madrugada. Os ânimos estavam elevados enquanto os atletas se preparavam para enfrentar o percurso desafiador. O trajeto começava com uma subida íngreme que colocava à prova a determinação de qualquer competidor logo no início. A cada chegada à linha final, atletas cobertos de lama e completamente exaustos se jogavam ao chão, exauridos por terem superado as curvas, subidas e descidas alucinantes do trajeto. Uma linda cena de guerra. Foi como ver verdadeiros gladiadores após um combate vencido nas arenas do coliseu.






Dia 2: O desafio final
O segundo dia começou com uma leve garoa. Os atletas assumiram suas posições para encarar mais um dia de esforços intensos. A emoção atingiu seu ápice quando os competidores cruzaram a linha de chegada. Lágrimas de alívio e superação eram comuns, enquanto cada um vivia o clímax de sua jornada.
Entre as histórias mais emocionantes, destacou-se Andreia Ribeiro, representando o Brasil em seu primeiro campeonato mundial. Com lágrimas nos olhos ao finalizar a prova, Andreia refletiu sobre o significado de competir uma prova tão árdua, e o valor de toda a sua dedicação ao longo de anos ao lado de seu esposo e também competidor Eduardo Ribeiro. Para eles, completar a prova foi além da conquista pessoal; era uma mensagem de que atletas de países sem tradição no esporte podem alcançar seus grandes sonhos e objetivos se quiserem muito. A Determinação desse casal brasileiro em elevar o canicross no Brasil e inspirar outras pessoas a realizarem seus sonhos foi marcante. Ao final dessa matéria deixamos uma entrevista exclusiva com eles para você conferir mais.
A cerimonia de premiação foi belíssima, e tivemos resultados impressionantes em todas as modalidades, que vc poderá acompanhar na pagina da ICF no Face book (International Canicross Federation)
No canicross, gostaríamos de destacar Ben Robinson que defendeu seu título fazendo o melhor tempo nos dois dias de competição, Carolin Joeken com o primeiro lugar no canicross feminino e Luki Junge na categoria Jovem






Acompanhe a entrevista exclusiva com Andreia e Eduardo Ribeiro e na sequência, com a campeã feminina
Carolin Joeken.


Canicross Magazine:
O que motivou vocês a participarem do campeonato mundial de Canicross na Italia, e como foi a experiência de competir em um evento tão grande?
O que nos motivou, foi a busca por conhecimento, aprendizado, e com isso trazer evolução do esporte para o Brasil. Ter a oportunidade de apresentar ao mundo o canicross brasileiros, mostrando que aqui em nosso país, temos excelentes atletas, chamar a atenção de outros países mais experientes para nos ajudar com o crescimento do esporte.
Competir em um evento tão grande foi uma experiência inesquecível. Ver de perto atletas que seguimos e nos espelhamos, ver o canicross de alto rendimento nos outros países, ver de perto a diversidade de culturas, é algo que nos recordaremos para sempre.
Quais foram os principais desafios que vocês enfrentaram durante a competição e como conseguiram superá-los?
O principal desafio foi o financeiro, sem dúvidas. Uma viagem para Europa para duas pessoas e dois cães grandes não é algo barato, além de todo valor gasto em documentações e exames para completar os requisitos para a viagem dos cães.
Além do tempo de viagem, que foi bastante desgastante. Foram 12 horas de voo, e mais 13 horas de viagem de carro até chegarmos à Bardonecchia, o desgaste da viagem também foi um desafio grande.
O desafio financeiro nós conseguimos amenizar lançando uma vaquinha online, onde conseguimos arrecadar 10% do valor total da viagem, tivemos o apoio da Ultra Pet Alimentos (nosso fornecedor das rações dos nossos cães) que também nos ajudou, os 80% foram pagos do nosso bolso, ou melhor, continuam sendo pagos do nosso bolso.
Quanto o desgaste das várias horas de viagem, estávamos bem treinados, já cientes de como seria chegar até Bardonecchia, com o acompanhamento do nosso professor Marco Ferreira, a recuperação foi mais fácil.
Ben Robinson fez uma performance impressionante, fechando o primeiro dia com o tempo de 12:12.17, consolidando sua posição como favorito ao título. Logo atrás, o francês Jerome Henrion marcou 12:23.20, prometendo uma disputa acirrada. Um dos grandes destaques foi Carolin Joeken, que alcançou o quinto melhor tempo geral, que a colocou largando no segundo dia a frente de lendas como Antony Le Mogne entre outros homens extremamente rápidos.


Como vcs se sentiram ao completarem a prova? O que significou para vocês e para o crescimento do Canicross no Brasil?
Foi nossa primeira prova internacional, conseguir ter ido já foi uma grande conquista para nós e para o crescimento do esporte no Brasil, mas completar os dois dias de prova com todas as dificuldades que passamos, foi algo espetacular.
Assim que cruzamos a linha de chegada do primeiro dia, sentimos que poderíamos deixar nossa marca no Campeonato Mundial ICF, conseguimos uma boa colocação. Cruzar a linha de chegada no segundo e último dia de prova, foi muito emocionante. Veio em nossa mente todo trabalho no decorrer do ano, todos os sacrifícios que fizemos para estarmos lá, a sensação de dever cumprido para o esporte brasileiro, uma enxurrada de emoções, foi impossível segurar as lágrimas.
Gratidão pelos nossos cães que desempenharam um excelente papel mesmo com todo desgaste da viagem, e certeza que é o esporte que queremos desenvolver e nos aprofundar por muitos e muitos anos.
Competindo nos dois dias do Campeonato, e tendo o desempenho que tivemos mesmo sendo nosso primeiro ano, chamou a atenção dos países mais experientes no esporte, colocando o Brasil como um país competitivo e a altura de competir com os gigantes do esporte mundial. Com certeza isso trará mais desenvolvimento esportivo e chamará atenção para o crescimento do esporte no nosso país.
Que lições ou aprendizados vocês trouxeram de volta para o Brasil após essa experiência no campeonato mundial?
O maior aprendizado acreditamos ser que nos países Europeus, principalmente, eles realmente vivem o esporte 24 horas por dia. Se dedicam integralmente, e não é apenas a dupla cão e humano, é a família inteira. Pais, filhos, cães filhotes, todos participam do esporte, todos se dedicam para o esporte.
As organizações se preocupam em proporcionar eventos de Canicross, Bikejoring e Scooterjoring com frequência, dando aos atletas várias provas por mês. Os atletas por sua vez, se dedicam em estarem presentes em todos os eventos da sua região e de regiões próximas.
Esses foram os aprendizados que trouxemos para o Brasil, dar a oportunidade para que todos os atletas conheçam o canicross.
Como vocês veem o futuro do Canicross no Brasil e quais são os próximos passos que pretendem tomar para ajudar a desenvolver ainda mais o esporte por aqui?
Vemos o esporte crescer em todas as regiões do Brasil. Com a ajuda da ABCAES (Associação Brasileira de Canicross e Esportes Similares) a procura por organizadores de eventos trail por querer incluir o canicross em suas provas vem crescendo. Com isso, estão surgindo novos adeptos, que trará novos atletas para o esporte. Seguimos trabalhando para que o canicross e similares seja conhecido e praticado de forma correta em todo o país. Para isso, nos tornamos colaboradores da ABCAES, e estamos juntamente com a associação, no desafio de fazer o esporte ser conhecido e praticado no nosso país.
Que conselho vocês dariam para os atletas brasileiros que sonham em competir em eventos internacionais de Canicross?
Se seu sonho é competir em um Campeonato Mundial, estude bastante sobre técnicas de desenvolvimento para a corrida do seu cão, peça ajuda para os mais experientes. No Canicross, a performance do cão é extremamente importante para o bom desempenho da dupla.
Inicie seu treinamento com um profissional que possa te auxiliar e ajudar para sua performance. Seu treinamento precisa ter acompanhamento, tenha um bom treinador.
Não desista na primeira dificuldade, trace seu objetivo e siga na direção dele. Existirão pessoas que estarão do seu lado e pessoas que tentarão te desmotivar. Saiba exatamente o que quer e siga em frente, somos provas vivas de que os sonhos podem se tornar realidade.
Entrevista com Carolin Joeken
Canicross Magazine:
Caro, você foi a mulher mais rápida do mundo em 2024, conquistando a Medalha de Ouro no Campeonato Mundial de Canicross. Como você se preparou para alcançar uma posição tão cobiçada?
Desde que eu era uma menina, sempre fui apaixonada por corrida. É minha paixão, assim como os cães são uma parte importante da minha vida. O canicross é o esporte perfeito para combinar as duas coisas.
Eu prefiro correr longas distâncias (meia maratona e maratona), então treino muitos quilômetros (mais de 100 km por semana).
Otimizei meu treinamento para o campeonato mundial treinando bastante em terrenos com subidas.
Mas, como a base já era sólida e eu estava em boa forma, só precisei aprimorar um pouco mais essa forma.
O mesmo aconteceu com meus cães, Nick e Ari. Eles fizeram mais treinos de força e intervalos em subidas.
Após o seu tempo incrível no primeiro dia de competição, você começou à frente de lendas como Antony Le Moigne e outros homens extremamente rápidos no segundo dia. Como foi estar entre eles, representando a categoria feminina?
Quando fui autorizada a largar no segundo dia como a primeira mulher junto com todos os homens rápidos, fiquei sem palavras. Tudo parecia irreal!
Ao mesmo tempo, fiquei incrivelmente orgulhosa do meu jovem cão e de mim mesma.
Você acredita que sua performance pode abrir portas para que mais mulheres se destaquem e se interessem pela prática do esporte?
Espero que, através do meu sucesso, eu tenha conseguido inspirar mais mulheres a praticarem este grande esporte. Consegui motivá-las e ser um modelo a seguir.
Aqui na Alemanha, muitas mais mulheres praticam o esporte, e as mulheres enfrentam uma competição significativamente mais forte do que os homens.


Quais foram os maiores desafios que você enfrentou durante a competição, tanto tecnicamente quanto emocionalmente?
O maior desafio para mim foi escolher o cachorro certo.
Eu realmente queria correr com Nick (6 anos), meu cão mais velho e experiente, mas não consegui segurá-lo nas seções íngremes de descida.
Meu jovem cão Ari (2 anos) não tinha nenhuma experiência.
Também não éramos ainda uma equipe bem coordenada.
Mas confiei nele, acreditei nele e quis dar a ele a chance de se provar.
Ari não me decepcionou, e assim, depois do primeiro dia de corrida, com um minuto de vantagem sobre a segunda colocada, fiquei simplesmente impressionada e orgulhosa desse jovem cão.
A trilha foi difícil para nós, mas gostamos!
Eu prefiro trilhas tecnicamente desafiadoras.
A subida não foi um grande desafio; nesta trilha, era preciso ser bom em correr nas descidas para poder acompanhar os corredores da frente.
O que esse título significa para você pessoalmente e para sua carreira no canicross? Há algo especial que você gostaria de dizer àqueles que te apoiam ou se inspiram em você?
O título em si não significa tanto para mim. É a recompensa por todos os treinos intensos.
O que significa muito mais para mim é que consegui formar uma equipe com meu jovem Ari. Crescemos juntos e confiamos um no outro, o que nos tornou imbatíveis. Essa sensação é incrível.
Quando comecei no esporte (2016), nunca sonhei que me tornaria campeã mundial.
Ser o time de canicross mais rápido da Alemanha (masculino e feminino) foi incrível para mim.
Depois veio o terceiro lugar em Ech (Bélgica) e Leipa. Estava claro que seria difícil superar isso. Mas nós conseguimos!
Continuarei praticando o esporte com paixão e, se tudo correr bem, tentarei, é claro, defender nosso título.
Um grande agradecimento aos meus patrocinadores e à minha família, especialmente ao meu marido, que veio comigo para a Itália para me apoiar e acreditar em mim.


Foto: Hermans Anaïs
Foto: Rafa Medeiros
Em outubro de 2024, a comunidade de canicross testemunhou um dos eventos mais aguardados do ano:
O Campeonato Mundial de Canicross da ICF

